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O Cerimonial Social e os Ritos de Passagem


Antes mesmo de nascermos já cumprimos, ou, somos motivo de várias agendas de compromissos da vida social.


Estudando as velhas crenças, dos antigos, passamos a compreender a complexidade de se viver em sociedade.


Fustel de Coulanges (1830 -1889), em seu livro: “A Cidade Antiga: um estudo sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e da Roma antiga”, obra, essa, publicada há dois séculos, nos ensina o quão importante, e, necessários são os ritos de passagem na vida do individuo, da família e da sociedade.


Pesquisando um pouco mais longe, há várias passagens no livro sagrado que apontam o anúncio da chegada de um bebê, o seu nascimento, batizado, aniversário, apresentação na igreja (bar Mitzva), casamento, (bodas de Caná), funerais entre outros, todos esses eventos explorados pelo mundo contemporâneo.


Ainda em citações de Coulanges, a noiva, vestia branco, porque era a cor do vestuário em todos os atos religiosos, usava coroa na cabeça, pois era também costume seu uso em todas as cerimônias. A música, chamava-se hino, himeneu[1], e a importância do canto sagrado era tão grande que o nome foi dado a toda a cerimônia.


O bolo era comido, no meio de citação de orações, na presença dos familiares, sendo efetivada a união santa entre o marido e a mulher: "Nuptiae sunt divini juris et humani communicatio", ou seja: união de um homem com uma mulher, uma comunhão por toda a vida, com a aceitação de tudo o que é exigido pelo direito humano e divino, e outra: “Uxor sócia humanae rei atque divinae”, traduzindo: a esposa é a companheira das coisas humanas e divinas.


Então, o casamento era a cerimônia sagrada que deveria produzir esses grandes efeitos, ou simplesmente: télos[2].


Seguindo as tradições à época, a moça (noiva), não entrava na habitação com os próprios pés, por isso era carregada pelo marido, fazendo com que ela atravessasse a porta com todo cuidado, para que, os pés dela não esbarrassem na soleira.


Diante de tanta história, hábitos, costumes dos povos, das civilizações que originaram o nosso direito, pensar na cerimônia religiosa de um casamento, é pensar em todo esse simbolismo secular que permanece em nosso DNA, que mesmo que não saibamos dos reais, verdadeiros, sentimentos que nos arraigam em manter tão distinta celebração, os mantemos vivos.


Contudo, nosso pensamento, neste momento, vem discorrer não sobre religião, mas, dos ritos seculares que circundam nossa vida, e, com eles, os profissionais que os realizam.


O papel do cerimonialista social, que segue, ou deveria ser guardião das normas e ritos religiosos ou não, independente do credo, mas certamente, curadores do bom senso, sejam eles, para um batizado, uma primeira comunhão, uma missa em ação de graças pelo aniversário, realização de casamentos e bodas, formaturas, festejos importantes do clã familiar, ou mesmo, de uma empresa, e finalmente do funeral, ou da última festa, a despedida.


Para cada uma dessas cerimônias, atos solenes, existe um rito, uma norma, um sonho, um desejo contido, uma tradição, um culto, que merece e deve vir revestida de muita capacitação e conhecimento, respeitando o costume de cada templo a que vai se adentrar, para não cometer gafes imperdoáveis, na carreira de qualquer profissional.


Observamos recentemente, no casamento real britânico, a discrição, o cenário e o desenho minimamente roteirizado para um evento pontual, elegante, emocionante, repleto de significados e de rituais, tais como: quem precede quem, quem faz parte do cortejo, tipo de trajes e acessórios, pontualidade, singeleza, singularidade do perfil do casal, bom senso, sonorização, e diga-se de passagem, de personalidades, que são estrelas, mas que, contudo, se comportaram como seres humanos, e neste caso, em especial, destancando-se o papel dos cerimonialistas que ali estiveram, alguém viu? Eram invisíveis, parecia até não haver, você concorda?


Não é raro ver e ouvir comentários sobre a postura dos cerimonialistas do segmento social, e digo, falo, de cátedra. Como obstinados pelo critério da fama e da exposição demasiada dos seus colaboradores nesses eventos, isso não é marketing! Publicidade é outra coisa, que falaremos em outro artigo.


A nossa sugestão é, "menos é mais", no sentido de, menos circulação, menos selfies e lives, mais discrição, mais ensaios com os envolvidos, menos segurar o véu da noiva até o altar, pois, se ela for treinada, saberá segurar o véu, saberá segurar o seu buquê, e, diga-se de passagem, não é de atribuição da cerimonialista segura-lo durante a cerimônia.


O case, "casamento real", no propiciou uma verdadeira aula de como operacionalizar uma cerimônia de casamento, respeitando os rituais religiosos, as crenças, e o cerimonial real, mas, lembre-se, para sair tudo tão perfeito, e sem a circulação do cerimonial, é preciso treino, e, treino, significa capacitação, e um bom diálogo com o cliente, pois o papel do cerimonial é muito mais amplo e técnico do que abrir a porta da igreja, ou arrumar o véu.


Pense nisso.

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